Líbia à Beira do Caos: Conflitos em Trípoli Reacendem Fantasma da Guerra Civil

Roberto Farias
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Na noite de 12 de maio de 2025, a capital líbia, Trípoli, foi sacudida por intensos combates entre milícias rivais, reacendendo temores de uma nova guerra civil em um país já devastado por mais de uma década de conflitos. Tiroteios, drones e disparos de armas antiaéreas ecoaram pelas ruas, forçando o fechamento do Aeroporto Internacional de Trípoli e levando autoridades a pedirem que civis permanecessem em casa. O que desencadeou essa violência, e por que a Líbia parece incapaz de escapar do ciclo de guerras civis?
Trípoli em Chamas: O Estopim de 2025
Os confrontos em Trípoli começaram após o suposto assassinato de Abdul Ghani Al-Kikli, conhecido como “Gheniwa”, um poderoso líder de milícia alinhado ao Governo de Unidade Nacional (GNU), sediado na capital. Segundo relatos no X, como os de
@Geopolitik_2030
, milícias rivais usaram drones, armas leves e canhões antiaéreos, transformando bairros em zonas de guerra. O Libya Observer confirmou que forças adicionais foram enviadas à cidade, enquanto o Ministério da Saúde preparou hospitais para um influxo de vítimas. O Aeroporto de Trípoli suspendeu operações, com voos redirecionados para Misrata, conforme capturas do Flightradar24 (@newsandufology).
Embora o cessar-fogo de 2020, que encerrou a Segunda Guerra Civil Líbia, tenha trazido uma trégua relativa, os eventos de 12 de maio expõem a fragilidade da paz. A Líbia permanece dividida entre o GNU, em Trípoli, e o Governo de Estabilidade Nacional (GNS), no leste, liderado por figuras ligadas ao Exército Nacional Líbio (LNA) de Khalifa Haftar. Esses choques em Trípoli sinalizam que o país pode estar à beira de uma terceira guerra civil.
As Raízes do Conflito: Primeira Guerra Civil (2011)
A Líbia mergulhou no caos com a Primeira Guerra Civil, em 2011, desencadeada pela Primavera Árabe. Protestos contra o regime de Muammar Gaddafi, que governava desde 1969, evoluíram para uma rebelião armada após violenta repressão. Rebeldes, organizados sob o Conselho Nacional de Transição (CNT), receberam apoio de uma coalizão da OTAN, que impôs uma zona de exclusão aérea e bombardeou forças de Gaddafi. Em outubro de 2011, Gaddafi foi capturado e morto em Sirte, encerrando o conflito, mas deixando um vácuo de poder.
O saldo foi devastador: cerca de 10.000 a 15.000 mortos, milhares de deslocados e um país fragmentado por milícias tribais e regionais. A queda de Gaddafi, longe de trazer estabilidade, abriu caminho para a Segunda Guerra Civil, com grupos armados disputando controle de cidades e recursos.
Segunda Guerra Civil (2014-2020): Um País em Pedaços
Em 2014, a Líbia entrou em sua Segunda Guerra Civil, marcada por divisões políticas e combates entre facções. O general Khalifa Haftar, liderando o LNA no leste, lançou a “Operação Dignidad” contra grupos islamistas em Bengasi e tentou dissolver o Congresso Geral Nacional, em Trípoli, dominado pelos Irmãos Muçulmanos. Isso levou à formação de dois governos rivais: o GNU, em Trípoli, apoiado pela ONU, e o governo de Tobruk, alinhado a Haftar.
Os combates devastaram cidades como Trípoli, Bengasi e Sirte, com milícias locais, tribos e grupos jihadistas, como o Estado Islâmico, intensificando o caos. Haftar lançou uma grande ofensiva contra Trípoli em 2019, mas foi repelido com apoio militar turco ao GNU. Em agosto de 2020, um cessar-fogo mediado pela ONU foi assinado, seguido por um governo interino para preparar eleições. No entanto, as eleições, previstas para 2021, nunca ocorreram devido a disputas políticas, perpetuando a divisão.
O conflito deixou mais de 5.700 mortos até 2016, milhares de deslocados e uma economia arruinada, com bloqueios frequentes de campos petrolíferos. Milícias armadas continuaram a dominar regiões, e minas terrestres tornaram áreas como Sirte zonas de risco permanente.
2025: Um Novo Capítulo de Violência?
Os confrontos de 12 de maio em Trípoli são um lembrete de que a Líbia não superou suas divisões. A destituição do governador do Banco Central, Sadiq al-Kabir, em agosto de 2024, e as tensões entre as famílias Dbeibah (GNU) e Haftar (LNA) alimentaram a instabilidade, conforme análises da ECFR. Movimentos militares de Saddam Haftar, filho de Khalifa, violaram o cessar-fogo, e o assassinato de Gheniwa pode ser a faísca para uma escalada maior.
A Líbia enfrenta um impasse: de um lado, o GNU luta para manter legitimidade em Trípoli; de outro, Haftar consolida poder no leste, controlando campos petrolíferos e portos. Milícias locais, como as de Zawiya e Misrata, operam como forças autônomas, complicando qualquer tentativa de unificação. A Missão de Apoio da ONU na Líbia (UNSMIL) pediu contenção, mas a ausência de um processo político inclusivo torna a paz distante.
O Custo Humano das Guerras
As guerras civis líbias deixaram cicatrizes profundas. Desde 2011, mais de 435.000 pessoas foram deslocadas, e 300.000 precisavam de ajuda humanitária em 2023, segundo a UNICEF. Minas terrestres mataram 145 civis e feriram 1.465, conforme o Comitê Internacional da Cruz Vermelha. A violência em Trípoli ameaça agravar essa crise, com hospitais sobrecarregados e civis presos em zonas de combate.
Economicamente, o país sofre com interrupções na produção de petróleo, sua principal fonte de receita. Bloqueios por milícias, como os de 2020, custaram bilhões, e novos conflitos podem paralisar a economia novamente.
Há Esperança para a Paz?
Analistas, como os da DW, alertam que a Líbia está à beira de uma terceira guerra civil, a menos que haja intervenção internacional coordenada. Propostas incluem um plano da ONU para eleições supervisionadas e desarmamento de milícias, mas a resistência de líderes como Dbeibah e Haftar é um obstáculo. A Líbia precisa de um acordo que equilibre interesses tribais e regionais, mas a desconfiança mútua impede avanços.

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