Em julho de 2025, a cidade de Arraias, no Tocantins, foi palco de uma tragédia que abalou a família de Joana Dias dos Santos, de 59 anos. O que deveria ser uma cirurgia simples para retirada de um cisto no ovário resultou na morte da paciente, devido a um erro médico atribuído ao cirurgião José Viana, ex-deputado estadual e candidato a prefeito da cidade. A perfuração do intestino de Joana, não relatada inicialmente, levou a uma infecção generalizada que custou sua vida, levantando sérias questões sobre imperícia médica, negligência hospitalar e os desafios de fiscalização no sistema de saúde brasileiro.
O Início do Pesadelo
Tudo começou em maio de 2025, quando Joana, moradora de Arraias, viajou a Brasília para exames médicos e descobriu um cisto no ovário. Inicialmente, a cirurgia estava marcada na capital, mas, ao retornar à sua cidade, Joana consultou José Viana, médico e amigo da família, que se ofereceu para realizar o procedimento no Hospital Regional de Arraias. “Ela quis evitar nos dar trabalho e confiou nele”, relatou Taís Cristine Dias dos Santos, filha de Joana.
A cirurgia, marcada para 4 de julho, deveria durar cerca de 50 minutos, mas se estendeu por quatro horas. Após o procedimento, Viana impôs uma dieta zero por três dias, com Joana recebendo apenas soro. Dois dias depois, ele ampliou a restrição alimentar por mais cinco dias e suspendeu o soro, alegando inchaço. Segundo o médico, houve uma “aderência” do cisto ao intestino, exigindo uma “raspagem”. No entanto, ele não mencionou uma perfuração intestinal, um detalhe crucial que mudaria o desfecho da história.
A Falha Fatal
As filhas de Joana, Adriana e Taís, perceberam que o estado de saúde da mãe piorava, apesar das garantias de Viana de que ela estava bem. “Ela pedia água de coco, dizendo que estava com fome”, lembra Taís, emocionada. A ausência de um diagnóstico claro no parecer médico de Viana atrasou a intervenção em Brasília. “Se ele tivesse informado a perfuração, os médicos daqui teriam operado na hora”, disse Adriana. Desesperada, a família contratou uma ambulância particular para transferir Joana a um hospital em Brasília no dia 7 de julho, enfrentando resistência do diretor do hospital, João Carlos.
Em 11 de julho, uma nova cirurgia revelou o pior: múltiplas perfurações no intestino grosso, com cerca de três litros de fezes vazando na cavidade abdominal. A infecção generalizada decorrente do atraso no tratamento foi fatal. Joana foi internada na UTI, mas não resistiu e faleceu no dia 16 de julho.
A Busca por Justiça
Inconformados, os filhos de Joana denunciaram o caso ao Ministério Público do Tocantins (MP-TO) e planejam uma ação criminal contra José Viana, por imperícia, e o diretor João Carlos, por negligência. Em 4 de agosto, o corpo de Joana foi exumado para perícia técnica, e o processo corre em segredo de Justiça. A promotora Natália do Carmo Rios dos Santos, da 1ª Promotoria de Justiça Criminal de Defesa dos Usuários do Serviço de Saúde, destacou a existência de uma comissão especializada para apurar denúncias contra condutas médicas inadequadas. Ela também recomendou que a família registre a queixa no Conselho Regional de Medicina (CRM) para investigar a ética profissional de Viana.
A Secretaria de Saúde do Tocantins (Sesau) afirmou que Joana apresentava “estado favorável” no pós-operatório e que a responsabilidade pela transferência foi da família, conforme termo assinado. A Sesau diz ter prestado esclarecimentos ao MP-TO, mas José Viana, que está em campanha eleitoral, não respondeu às tentativas de contato.
O Erros Médicos
O caso de Joana reflete um problema recorrente no Brasil. Segundo o Conselho Federal de Medicina (CFM), cerca de 800 denúncias de erros médicos, abusos éticos e conflitos são registradas anualmente. A falta de comunicação clara, como a omissão da perfuração no parecer de Viana, é um exemplo clássico de falha que pode custar vidas. A demora em reconhecer e tratar complicações, aliada à resistência do hospital em liberar a paciente, expõe fragilidades no sistema de saúde, especialmente em regiões com menos recursos, como Arraias.
Reflexões e Soluções
A tragédia de Joana Dias levanta questões urgentes:
- Fiscalização médica: Como garantir que profissionais sejam responsabilizados por imperícia ou negligência? O CRM precisa de maior agilidade na apuração de denúncias.
- Transparência hospitalar: Pareceres médicos devem ser claros e detalhados para evitar atrasos em tratamentos.
- Acesso à saúde: Regiões como Arraias precisam de mais infraestrutura e profissionais capacitados para evitar transferências arriscadas.
- Apoio às famílias: Processos judiciais e perícias devem ser mais acessíveis para vítimas de erros médicos.
Este caso é um chamado à ação para melhorar a segurança dos pacientes e reforçar a confiança no sistema de saúde. A família de Joana busca justiça, mas também espera que sua perda inspire mudanças para que outras vidas não sejam ceifadas por erros evitáveis.
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