O Fim do Mundo que Não Veio: A Profecia de 2011 e a Febre do Dia do Julgamento

Roberto Farias
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Em 2011, uma onda de fervor apocalíptico tomou conta de diversas partes do mundo, impulsionada por uma profecia liderada pelo engenheiro civil aposentado Harold Camping, de 89 anos, fundador da Family Radio Worldwide, uma igreja protestante independente sediada em Oakland, Califórnia. Segundo Camping, o dia 21 de maio de 2011 marcaria a segunda vinda de Jesus Cristo, o Dia do Julgamento, quando os fiéis seriam levados ao paraíso, enquanto o mundo enfrentaria o início do fim. A previsão, baseada em cálculos numerológicos a partir da Bíblia e eventos como a criação de Israel em 1948, gerou uma campanha global intensa, com propagandas em rádios, TVs, outdoors, metrôs e até sermões em países da América Latina à Ásia.
A mensagem, no entanto, não foi recebida com unanimidade. Enquanto alguns seguidores abandonaram suas rotinas para divulgar a profecia, como Mary Exley, que deixou sua família no Colorado para se dedicar à causa, muitos cristãos tradicionais rejeitaram a ideia. Líderes como o reverendo Daniel Akin, do Seminário Batista em Wake Forest, Carolina do Norte, criticaram a especulação como "irresponsável", alertando que ela poderia enganar fiéis sinceros. A noção de uma "segunda vinda" com data marcada é considerada recente e não é aceita por muitas correntes cristãs, que veem tais previsões com ceticismo.
Do outro lado, a profecia virou motivo de piada para céticos. Nos Estados Unidos, festas foram organizadas para "celebrar" o suposto fim do mundo. Em Fayetteville, na Carolina do Norte, a Associação Humanista Americana promoveu um evento de dois dias, com shows de música a partir de 21 de maio, convidando até cristãos para se juntarem à diversão. "Não queremos ofender, todos são bem-vindos", disse Geri Weaver, organizador do evento. A tira cômica Doonesbury também satirizou a previsão, refletindo o tom de descrença de grande parte da sociedade.
A campanha de Camping não era novidade. Em 1994, ele já havia previsto o fim do mundo, mas seus seguidores reinterpretaram a falha como o fim de uma "idade da Igreja", insistindo que apenas os que rejeitassem igrejas "corruptas" seriam salvos em 2011. A Family Radio, junto a grupos como o eBible Fellowship, espalhou a mensagem em dezenas de países, com exceção de algumas nações da Ásia Central, como Afeganistão e Usbequistão. No Vietnã, a profecia causou tumultos entre a minoria Hmong, que se reuniu na fronteira com o Laos, levando o governo a intervir e dispersar cerca de 5 mil pessoas.
No fim, 21 de maio de 2011 passou sem eventos apocalípticos, e a profecia de Camping se juntou a uma longa lista de previsões fracassadas. O episódio, porém, deixou uma marca: revelou o poder da mídia e da fé em mobilizar multidões, além de expor as divisões entre fervor religioso, ceticismo e sátira. Para muitos, foi um lembrete de que o fim do mundo, pelo menos por enquanto, continua sendo apenas uma especulação.

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