França Planeja Prisão de Segurança Máxima na Amazônia para Isolar Traficantes e Extremistas

Roberto Farias
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A França anunciou a construção de uma prisão de segurança máxima em Saint-Laurent-du-Maroni, na Guiana Francesa, um território ultramarino francês localizado na costa norte da América do Sul, próximo à fronteira com o Suriname. Com um investimento estimado em €400 milhões (cerca de R$2,5 bilhões), a unidade está prevista para ser inaugurada em 2028 e terá capacidade para até 500 detentos. Desse total, 60 vagas serão destinadas a líderes do tráfico de drogas de alta periculosidade, enquanto 15 serão reservadas para indivíduos condenados por radicalismo islâmico. A localização estratégica na floresta amazônica, segundo o ministro da Justiça francês, Gérald Darmanin, visa isolar esses presos, dificultando suas conexões com redes criminosas externas, especialmente em um contexto onde a Guiana Francesa enfrenta alta criminalidade, com uma taxa de 20,6 homicídios por 100 mil habitantes em 2023.
O projeto, embora planejado desde 2017 para aliviar a superlotação das prisões locais, ganhou nova dimensão com a decisão de transferir criminosos de alta periculosidade da França continental. A Guiana Francesa, que integra a União Europeia e utiliza o euro, é um ponto estratégico devido à sua proximidade com rotas de tráfico de drogas provenientes do Brasil e do Suriname, importantes corredores do crime organizado na América do Sul. A prisão contará com medidas de segurança reforçadas, incluindo vigilância avançada e isolamento geográfico, aproveitando a densa floresta amazônica como barreira natural.
A iniciativa enfrenta forte oposição de moradores e autoridades locais. A Guiana Francesa tem um passado marcado pela violência do sistema prisional colonial, especialmente pela notória colônia penal da Ilha do Diabo, que operou até 1953 e ficou conhecida pelas condições desumanas. Esse histórico pesa nas críticas ao projeto. O deputado local Jean-Victor Castor classificou a decisão como um "retrocesso colonial" e um "insulto à história" da região, argumentando que a transferência de presos perigosos da França desrespeita a população local. Jean-Paul Fereira, presidente interino da Coletividade Territorial da Guiana Francesa, reforçou que o governo central não consultou adequadamente as lideranças regionais, o que intensifica a percepção de imposição.
Protestos já foram registrados em Saint-Laurent-du-Maroni, com moradores temendo que a prisão traga mais insegurança e estigmatize ainda mais a região. Além disso, há preocupações com o impacto ambiental da construção em uma área sensível da Amazônia, embora detalhes sobre medidas de preservação ainda não tenham sido divulgados pelo governo francês.
A escolha da Guiana Francesa não é aleatória. A região é um ponto crítico no combate ao tráfico de drogas, dada sua posição geográfica. Em 2023, autoridades locais relataram aumento nas apreensões de cocaína provenientes de países vizinhos, com o porto de Cayenne sendo um dos alvos de operações internacionais. A prisão de segurança máxima também responde à pressão crescente na França para lidar com o crime organizado e o terrorismo. Nos últimos anos, o país enfrentou desafios com gangues de narcotraficantes e casos de radicalização em prisões, o que levou à proposta de isolar líderes criminosos em locais remotos.
O governo francês argumenta que a nova unidade trará benefícios econômicos, como a criação de empregos diretos e indiretos na construção e operação da prisão. No entanto, lideranças locais questionam se esses benefícios compensarão os riscos sociais e o impacto na imagem da Guiana Francesa, que já luta contra a pobreza e a desigualdade.
O projeto da prisão de segurança máxima coloca a Guiana Francesa no centro de um debate complexo, que mistura segurança pública, memória histórica e soberania local. Enquanto o governo francês defende a iniciativa como essencial para combater o crime organizado e o extremismo, a resistência local destaca a necessidade de maior diálogo e respeito pela história e pelas demandas da população. A construção da unidade será um teste para a relação entre a França continental e seu território ultramarino, em um momento em que a Guiana Francesa busca afirmar sua identidade e autonomia.
À medida que o projeto avança, questões como o impacto ambiental, a segurança da população local e a eficácia do isolamento de criminosos em uma região tão estratégica continuarão a gerar discussões. A inauguração em 2028 marcará um novo capítulo para a Guiana Francesa, mas os próximos anos serão cruciais para determinar se a prisão será vista como uma solução ou como um novo fardo para a região.

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