Em 12 de junho de 2012, o chefe das operações de paz da ONU, Hervé Ladsous, declarou oficialmente que o conflito na Síria havia atingido o nível de guerra civil. Em entrevista a jornalistas, Ladsous afirmou: “Sim, acho que podemos dizer isso. O governo sírio perdeu grande parte do seu território, diversas cidades, para a oposição e quer recuperar o controle.” A declaração marcou a primeira vez que um alto funcionário da ONU classificou a situação como guerra civil, refletindo a intensificação da violência e a perda de controle do regime de Bashar al-Assad em várias regiões.
A Escalada da Violência
O Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH) relatou que, apenas naquele dia, 36 pessoas morreram em confrontos, com as forças de Assad bombardeando redutos rebeldes em Deir Ezzor (leste), Aleppo (norte) e Homs (centro). Na semana anterior, cerca de 120 pessoas perderam a vida em Al-Hafa, incluindo 58 soldados, 29 civis e 23 rebeldes, além de centenas de feridos. Na segunda-feira, 11 de junho, a violência ceifou 111 vidas, sendo 79 civis. Desde o início da revolta, em março de 2011, mais de 14.100 pessoas, majoritariamente civis, morreram, segundo o OSDH.
A cidade de Homs, um dos epicentros do conflito, enfrentava ataques intensos contra posições rebeldes, com bombardeios que devastavam bairros residenciais. A violência sectária entre rebeldes, majoritariamente sunitas, e as forças de Assad, apoiadas pela minoria alauíta, aprofundava as divisões no país, enquanto os rebeldes, cada vez mais armados, ganhavam terreno.
Contexto e Repercussões
A declaração de Ladsous veio em um momento crítico, com o cessar-fogo negociado por Kofi Annan em abril de 2012 mostrando-se ineficaz. O Comitê Internacional da Cruz Vermelha alertou que a situação humanitária piorava simultaneamente em várias regiões, com centenas de pessoas fugindo de Homs devido aos bombardeios. A ONU enfrentava dificuldades para manter observadores em áreas de conflito, e Ladsous destacou o uso de tanques, artilharia e helicópteros de ataque pelo regime, indicando uma escalada “em grande escala”.
A comunidade internacional permanecia dividida. Rússia e China vetaram resoluções no Conselho de Segurança da ONU que buscavam impor sanções a Damasco, enquanto os EUA acusavam Moscou de fornecer helicópteros de ataque à Síria, intensificando as tensões diplomáticas. A oposição, incluindo a Free Syrian Army, começava a organizar ações mais coordenadas, como o ataque a uma base militar em Damasco em novembro de 2011, sinalizando a transição de protestos pacíficos para uma rebelião armada.
Um Chamado à Reflexão
A confirmação da guerra civil pela ONU destacou a gravidade da crise síria, que já deslocava milhares de pessoas e gerava uma das maiores crises de refugiados da história moderna. A perda de vidas, a destruição de cidades e a polarização sectária expunham os limites da diplomacia internacional para conter o conflito. Enquanto Assad intensificava a repressão, a oposição ganhava força, mas a ausência de uma solução política mantinha a Síria em um ciclo de violência que marcaria o país por mais de uma década.
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