Uiraponga: O Vilarejo Fantasma Silenciado pela Guerra de Facções no Ceará

TimeCras
Roberto Farias
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No coração do Vale do Jaguaribe, no Ceará, o pequeno distrito de Uiraponga, em Morada Nova, viveu dias de terror que o reduziram a um cenário de abandono. O que antes era um vilarejo vibrante, com cerca de 2 mil habitantes, hoje é um lugar quase deserto, onde o eco da violência das facções criminosas substituiu o barulho das crianças brincando e dos comércios pulsando. Em poucos meses, a disputa entre grupos rivais pelo controle do tráfico de drogas esvaziou ruas, fechou escolas e deixou marcas de tiros nas paredes, transformando Uiraponga em um símbolo trágico da expansão do crime organizado no interior nordestino.


Uma Guerra que Apagou a Vida Local

Tudo começou com a rivalidade entre duas facções: a **TCP Cangaço**, um braço do Terceiro Comando Puro (TCP) do Rio de Janeiro, que adotou o imaginário do cangaço para se infiltrar no sertão, e os **Guardiões do Estado (GDE)**, grupo cearense que opera a partir de presídios. Até meados de 2025, as duas facções dividiam o controle do tráfico, extorquindo comerciantes, roubando gado e espalhando medo. Mas a prisão de membros do TCP abriu espaço para a GDE consolidar seu domínio, desencadeando uma onda de violência brutal.


Moradores relatam cenas de horror: execuções públicas, invasões armadas em casas e ameaças de morte pichadas pelas ruas. A ordem era clara: deixar Uiraponga ou enfrentar as consequências. Em poucas semanas, quase todos os habitantes fugiram, levando apenas o que podiam carregar. Hoje, apenas cinco famílias permanecem, vivendo sob tensão constante. A escola, o posto de saúde e a igreja, antes pontos de encontro, estão fechados. O comércio local, que sustentava muitas famílias, simplesmente desapareceu.


Por que Uiraponga?

A localização estratégica do vilarejo explica o interesse das facções. Situado no entroncamento de seis cidades, Uiraponga é um ponto perfeito para o tráfico de drogas e armas. A violência não é apenas pelo controle do território, mas também pela eliminação de qualquer apoio à facção rival, o que inclui moradores acusados de colaborar com o inimigo. Esse cenário reflete um problema maior: o crime organizado, antes restrito às grandes cidades, agora avança sobre áreas rurais, aproveitando a fragilidade do policiamento e o isolamento geográfico.


O Papel das Autoridades e a Luta por Recuperação

A resposta do poder público tem sido lenta. A Secretaria da Segurança Pública do Ceará (SSPDS) intensificou investigações e, em setembro de 2025, prendeu 12 suspeitos ligados às facções. Operações policiais prometem reforçar a segurança, mas os moradores relatam que a presença ostensiva é insuficiente. A Defensoria Pública atua para garantir direitos básicos, como moradia temporária para os desabrigados, enquanto a prefeitura de Morada Nova busca soluções emergenciais. Ainda assim, o retorno das famílias depende de garantias reais de segurança, algo que parece distante.


Um Grito por Justiça

A tragédia de Uiraponga não é apenas uma história local, mas um alerta sobre como a violência do crime organizado pode destruir comunidades inteiras. As famílias que fugiram sonham em voltar, mas o medo ainda reina. O vilarejo, agora silencioso, é um lembrete de que a luta contra as facções exige mais do que operações policiais: é preciso investimento em infraestrutura, educação e oportunidades para que o sertão não continue refém do crime.


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