Em abril de 2011, Mitch Hunter, um americano de 30 anos de Indianápolis, passou por uma cirurgia revolucionária que mudou sua vida: o terceiro transplante completo de rosto realizado nos Estados Unidos. Após uma década vivendo com o rosto desfigurado por um acidente elétrico e sendo chamado de “monstro” por crianças que fugiam ao vê-lo, Mitch agora vislumbra um futuro com esperança, especialmente por seu filho, Clayton, de 18 meses.
A tragédia que marcou a vida de Mitch ocorreu em 2001, aos 20 anos, quando o carro em que estava colidiu com um poste de eletricidade de 10 mil volts. Ao tentar salvar uma passageira, ele sofreu uma descarga elétrica que queimou seu rosto e custou uma perna. Nos dez anos seguintes, passou por mais de 60 cirurgias plásticas, mas os resultados eram limitados, deixando cicatrizes profundas e uma aparência que o isolava socialmente. “Vi crianças se escondendo atrás das mães, assustadas comigo”, contou Mitch. O nascimento de Clayton foi o impulso final para buscar o transplante: “Não queria que meu filho ou outras crianças tivessem medo de mim.”
A cirurgia, realizada no Brigham and Women’s Hospital, em Boston, foi coordenada pelo cirurgião Bohdan Pomahac e financiada por uma parceria com as Forças Armadas dos EUA, que investem em reparação plástica devido ao número de soldados mutilados em conflitos como o do Afeganistão. A operação de 14 horas envolveu a remoção do tecido danificado do rosto de Mitch e a implantação de um novo rosto, incluindo nariz, lábios, músculos e nervos, conectado a três nervos faciais e artérias. O doador, um homem jovem, teve sua identidade preservada, mas a estrutura óssea de Mitch determinou o resultado final, que surpreendeu até sua família.
Quatro meses após a cirurgia, Mitch já notava melhorias. Apesar do inchaço inicial, ele começou a recuperar sensações, como elevar as sobrancelhas, sorrir e fazer bico. “Ainda há pele sobrando em alguns lugares, mas me disseram que vou ficar parecido com o que era”, afirmou. Seu irmão, Mark, reconheceu o “velho Mitch” logo ao vê-lo no hospital, enquanto sua esposa, Katerina, celebrou a transformação: “É louco o que a ciência consegue fazer. É incrível.” Katerina, que conheceu Mitch antes do acidente, destacou que o transplante trouxe de volta sua confiança, permitindo que ele saísse de casa sem medo do julgamento alheio.
O cirurgião Pomahac explicou que a recuperação sensorial deve evoluir, com sensações mais completas esperadas em cerca de 18 meses. Ele também destacou a importância do procedimento para veteranos de guerra, estimando que 200 a 300 soldados poderiam se beneficiar de transplantes semelhantes. Encontrar doadores, segundo ele, não é o maior obstáculo, já que a compatibilidade é mais flexível do que se imagina, embora rostos de doadores do mesmo sexo sejam preferidos.
A história de Mitch Hunter é um marco na medicina e um testemunho de resiliência. De um passado de isolamento e sofrimento, ele agora olha para o futuro com esperança, carregando Clayton nos braços e sonhando com uma vida sem o peso do estigma. Sua jornada reflete o poder da ciência e da determinação humana para superar as adversidades mais extremas.
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