Uma nova crise diplomática entre a Bolívia e os Estados Unidos ganhou destaque após denúncias do presidente Evo Morales sobre contatos telefônicos entre um funcionário da Embaixada norte-americana em La Paz e líderes indígenas que protestam contra a construção de uma rodovia no Território Indígena e Parque Nacional Isiboro Sécure (TIPNIS). O caso, que reflete as tensões históricas entre o governo boliviano e os EUA, gerou reações contundentes das autoridades locais.
No último domingo, Morales revelou que um diplomata dos EUA teria feito ligações para três lideranças indígenas envolvidas na marcha que começou em 15 de agosto, partindo de Trinidad rumo a La Paz. O movimento protesta contra a segunda etapa da rodovia Villa Tunari-San Ignacio de Moxos, financiada pelo BNDES e executada pela construtora brasileira OAS, que corta a reserva natural do TIPNIS, ameaçando a biodiversidade e o modo de vida das comunidades Yuracaré, Moxeño e Chimán.
O ministro da Presidência e chanceler interino, Carlos Romero, expressou o “profundo descontentamento” do governo boliviano em reunião com o conselheiro da Embaixada dos EUA, William Mozdzierz. Romero criticou as “comunicações diretas” feitas sem passar pela Chancelaria, considerando-as uma violação da soberania boliviana e da Convenção de Viena, que regula as relações diplomáticas. Ele exigiu um relatório detalhado sobre as ligações, que, segundo Mozdzierz, foram realizadas por um funcionário da embaixada com o objetivo de coletar informações sobre a situação do país.
Embora o diplomata norte-americano tenha negado qualquer intenção de interferência na marcha indígena, assegurando o desejo de melhorar as relações bilaterais com base no “respeito mútuo”, a Embaixada dos EUA defendeu, em comunicado, que contatos com diferentes setores da sociedade são prática comum na diplomacia. A justificativa, no entanto, não aplacou as suspeitas do governo boliviano, que enxerga os telefonemas como uma tentativa de desestabilização.
A bancada do Movimento Ao Socialismo (MAS), partido de Morales, anunciou a criação de uma comissão multipartidária para investigar as ligações. A apuração pode resultar em processos contra os líderes indígenas, acusados pelo governo de colaborar com interesses externos. As tensões são agravadas pelo histórico de atritos entre Morales e os EUA, incluindo a expulsão do embaixador norte-americano e da DEA em 2008, sob alegações de interferência nos assuntos internos da Bolívia.
O caso do TIPNIS expõe o delicado equilíbrio entre desenvolvimento econômico e preservação ambiental e cultural. Enquanto o governo defende a rodovia como essencial para a integração regional, os indígenas temem a destruição de seu território e a chegada de colonos, madeireiros e narcotraficantes. A marcha, liderada pela Confederação dos Povos Indígenas da Bolívia (CIDOB) e apoiada pela CONAMAQ, reflete a resistência das comunidades contra a falta de consulta prévia, garantida pela Constituição boliviana de 2009.
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