A Rússia voltou aos holofotes da medicina mundial ao anunciar o desenvolvimento de uma vacina contra o câncer, considerada “pronta para uso” e com distribuição gratuita prevista para a população local. O imunizante, batizado de Enteromix, foi apresentado pela chefe da Agência Federal de Medicina e Biologia (FMBA), Veronika Skvortsova, durante o Fórum Econômico do Leste, em Vladivostok.
Segundo o governo russo, a vacina utiliza tecnologia de mRNA — a mesma empregada nas vacinas contra a Covid-19 — e é personalizada com base na análise genética de cada tumor. Os testes pré-clínicos indicaram redução de até 80% no tamanho dos tumores e efeitos colaterais mínimos. Inicialmente voltada ao câncer colorretal, os pesquisadores também trabalham em versões para glioblastoma (tumor cerebral agressivo) e melanoma (câncer de pele).
Apesar do entusiasmo oficial, a comunidade científica internacional permanece cautelosa. Até o momento, não há publicações em revistas científicas revisadas por pares, nem registros públicos dos estudos clínicos. Especialistas alertam que, sem transparência nos dados, é impossível validar a eficácia ou segurança da vacina. A ausência de informações detalhadas sobre os métodos, participantes e resultados levanta dúvidas sobre a real aplicabilidade do imunizante.
A biomédica Gabriela Maira de Assis, do Centro Universitário UniBH, destaca que a divulgação prematura de uma “vacina pronta” pode gerar falsas esperanças em pacientes e familiares, além de comprometer a credibilidade científica. “Sem dados completos, qualquer afirmação permanece essencialmente política ou institucional”, afirma.
A Enteromix foi desenvolvida por centros de pesquisa russos como o Instituto Hertsen e o Centro Gamaleya, e ainda aguarda aprovação oficial para aplicação em humanos. Enquanto isso, especialistas reforçam que qualquer imunizante contra o câncer precisa passar por todas as fases clínicas e ser submetido à revisão científica rigorosa antes de ser considerado seguro e eficaz.
Se confirmada, a vacina poderá representar um marco na luta contra o câncer. Mas, por ora, o debate entre inovação e propaganda continua — e a ciência exige cautela.
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