São Paulo, 29 de agosto de 2025 – Em uma ação sem precedentes, a Operação Carbono Oculta, deflagrada em 28 de agosto de 2025, marcou um dos maiores golpes contra o crime organizado no Brasil. Coordenada pela Polícia Federal (PF), Ministério Público de São Paulo (MP-SP), Receita Federal, entre outros órgãos, a operação mobilizou cerca de 1.400 agentes em oito estados – São Paulo, Rio de Janeiro, Espírito Santo, Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Paraná e Santa Catarina – para desarticular um esquema bilionário comandado pelo Primeiro Comando da Capital (PCC). Com foco em lavagem de dinheiro, sonegação fiscal, adulteração de combustíveis e crimes ambientais, a operação expôs a infiltração da facção em setores cruciais da economia formal, como o mercado de combustíveis e o sistema financeiro.
Escopo e Impacto do Esquema
A investigação revelou que, entre 2020 e 2024, o PCC movimentou aproximadamente R$ 52 bilhões no setor de combustíveis, sonegando R$ 7,6 bilhões em impostos federais, estaduais e municipais, segundo estimativas da Receita Federal e do Comitê Interinstitucional de Recuperação de Ativos de São Paulo (CIRA/SP). O grupo criminoso controlava uma rede complexa que abrangia desde a importação irregular de metanol até a comercialização em mais de 300 postos de combustíveis em todo o país. Além disso, gerenciava 40 fundos de investimento com um patrimônio estimado em R$ 30 bilhões, utilizados para ocultar recursos ilícitos.
A operação também identificou a atuação do PCC na Avenida Faria Lima, principal centro financeiro de São Paulo, onde 42 alvos, incluindo fintechs e corretoras como a BK Bank (que movimentou R$ 17,7 bilhões em transações suspeitas) e a Reag Investimentos, foram investigados. Essas empresas usavam contas bolsão – contas bancárias que dificultam o rastreamento de recursos – para lavar dinheiro, aproveitando lacunas regulatórias, como a flexibilização das normas de transparência do Pix em 2025.
Modus Operandi do PCC
O esquema do PCC se destacava pela sofisticação. A facção controlava toda a cadeia produtiva de combustíveis, incluindo:
- Importação irregular de metanol pelo Porto de Paranaguá (PR), com documentos fraudados para desviar o produto.
- Adulteração de combustíveis, como a prática da “bomba baixa” (entrega de menos combustível do que o pago) e a mistura de substâncias proibidas.
- Coerção de empresários, que eram forçados a vender negócios, como postos de combustíveis, sob ameaça de morte.
- Aquisição de ativos, como usinas de etanol, fazendas de cana-de-açúcar, transportadoras, portos, lojas de conveniência e até padarias, para integrar operações ilícitas à economia formal.
Entre os alvos principais, destaca-se Mohamad Hussein Mourad, apontado como o cérebro financeiro do esquema, ligado às empresas Aster e Copape. Outros nomes, como Roberto Augusto Leme e Marcelo Dias de Moraes (Bankrow), também foram citados como peças-chave na rede de lavagem de dinheiro.
Resultados da Operação
A Operação Carbono Oculta resultou na execução de 348 mandados de busca e apreensão e 14 mandados de prisão preventiva, embora apenas 6 prisões tenham sido realizadas até o momento, levantando suspeitas de possível vazamento de informações. Foram bloqueados R$ 1,2 bilhão em bens, incluindo:
- 152 imóveis, como uma casa de luxo em Trancoso (BA).
- 1.600 caminhões.
- 6 fazendas.
- 2 embarcações.
Além disso, a operação revelou a conexão do PCC com empresas como Rodopetro, Duvale e Arka, que formavam um cartel para ocultar patrimônio e manipular a produção e distribuição de diesel e etanol.
Declarações e Repercussões
O ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, classificou a operação como um marco contra a infiltração do crime organizado na economia formal, destacando que o PCC passou de atividades ilícitas tradicionais, como o tráfico de drogas, para o controle de setores estratégicos. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou, em postagem no X, que a ação é “a maior resposta do Estado brasileiro ao crime organizado até hoje”. A desembargadora Ivana David, do Tribunal de Justiça de São Paulo, enfatizou que a operação “chega perto do fundo do poço” do crime organizado, mas alertou para a profundidade da rede.
A Receita Federal anunciou que fintechs serão enquadradas como instituições financeiras para maior fiscalização, enquanto o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, destacou que a operação atingiu o “andar de cima” do crime organizado. O Instituto Combustível Legal (ICL), que combate fraudes no setor, prevê que grandes distribuidoras, como Ultrapar, Raízen e Vibra Energia, terão aumento nas vendas devido à repressão a postos clandestinos, o que foi refletido na alta de suas ações na Bolsa de Valores após a operação.
Desafios e Críticas
Apesar do sucesso, a operação enfrentou críticas. A baixa taxa de prisões gerou questionamentos sobre a eficácia da execução e possíveis vazamentos. Além disso, tensões entre a Polícia Federal e o MP-SP, devido a disputas sobre a liderança das investigações, expuseram fragilidades na coordenação institucional. Especialistas, como Nívio Nascimento, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, apontam que a repressão precisa ser ampliada, considerando a centralidade de setores como combustíveis, bebidas e cigarros na economia do crime organizado.
Contexto Mais Amplo do Crime Organizado
A Operação Carbono Oculta também lança luz sobre outros esquemas do crime organizado no Brasil, como o tráfico de drogas e armas, que gera cerca de R$ 335 bilhões anuais, e o garimpo ilegal, com faturamento estimado entre R$ 3 bilhões e R$ 4 bilhões por ano. O PCC, com cerca de 100.000 membros, opera em quase todos os estados brasileiros e internacionalmente, em parceria com grupos como a máfia italiana ‘Ndrangheta’. A facção também está envolvida em crimes ambientais, como a mineração ilegal na Amazônia, que devastou áreas equivalentes a milhares de campos de futebol.
Perspectivas Futuras
A Operação Carbono Oculta é um passo significativo, mas especialistas alertam que o combate ao crime organizado exige medidas contínuas, como maior regulação de fintechs, fortalecimento da fiscalização no setor de combustíveis e integração entre órgãos de segurança. A sociedade brasileira agora acompanha os desdobramentos, com a expectativa de que a ação não seja um evento isolado, mas o início de uma estratégia robusta para conter a expansão das facções criminosas.
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