Morte de Gefferson no Campo Limpo: Família Acusa PM de Execução em Caso Chocante

Roberto Farias
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Uma operação policial no bairro do Campo Limpo, Zona Sul de São Paulo, resultou nas mortes de Gefferson Oliveira Soares do Nascimento, de 23 anos, e Paulo Batista do Nascimento, de 25 anos. Um vídeo gravado por uma testemunha, exibido pelo Fantástico, revelou detalhes perturbadores da ação, intensificando a controvérsia sobre a conduta dos policiais militares envolvidos. A família de Gefferson, em especial seu pai e sua irmã, afirma reconhecer a voz do jovem na gravação, implorando por sua vida, e contesta a versão oficial da Polícia Militar (PM).
O Caso e a Filmagem
Na manhã daquele sábado, a PM alegou ter identificado Gefferson, Paulo e um terceiro homem em um carro roubado. Segundo os policiais, o trio reagiu à abordagem com disparos, iniciando um confronto. Na versão inicial registrada na Polícia Civil, Gefferson teria sido baleado durante a troca de tiros e levado a um hospital, onde faleceu. Paulo, por sua vez, teria sido baleado, fugido e sido encontrado morto em uma viela.
No entanto, o vídeo contradiz essa narrativa. A gravação mostra Paulo Batista, que tinha antecedentes por receptação, roubo e falsificação de documentos, sendo dominado, agredido e levado a um carro da PM. Uma voz masculina é ouvida dizendo: “Não tenho nada a ver, senhor. Por favor, senhor”, seguida de um disparo que faz a pessoa que filmava se esconder. A polícia atribui a voz e o tiro a Paulo, mas o pai de Gefferson garante: “É o meu filho gritando.” Ele insiste que o jovem, descrito como trabalhador e sem envolvimento com crimes, foi vítima de uma execução. “Levasse para a cadeia, então. Aí vai averiguar se o cara tem passagem. Isso é a norma. Agora atirar à queima-roupa, isso não”, desabafou ao G1.
A irmã de Gefferson, uma educadora de 26 anos que preferiu o anonimato por medo de represálias, reforça a convicção da família. “Lembro da voz do meu irmão pedindo pelo amor de Deus para não tirarem a vida dele, e eles não tiveram piedade”, disse, evitando rever o vídeo devido ao trauma. Ambos concordam que a pessoa conduzida ao carro na filmagem é Paulo, não Gefferson, sugerindo que este último pode ter sido morto na mesma casa de onde Paulo foi retirado.
Investigação e Prisões
O vídeo levou à prisão temporária de cinco policiais militares: o tenente Halstons Kay Yin Chen e os soldados Francisco Anderson Henrique, Marcelo de Oliveira Silva, Jailson Pimentel de Almeida e Diógenes Marcelino de Melo. Eles foram detidos no Presídio Romão Gomes, na Zona Norte de São Paulo, a pedido da Corregedoria da PM. O Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP) solicitou a prisão preventiva dos suspeitos, o que os manteria detidos até o julgamento.
Segundo o DHPP, Paulo foi atingido por três disparos. O soldado Marcelo de Oliveira Silva teria disparado duas vezes — uma com Paulo já detido atrás do carro e outra quando ele tentou fugir. Um terceiro tiro, fatal, foi dado por Jailson Pimentel de Almeida após Paulo ser colocado no veículo. A perícia confirmou que o porta-malas do carro foi lavado, mas encontrou vestígios de sangue de Paulo, corroborando a tese de execução. A Corregedoria concluiu que os disparos foram “covardes e vis” contra uma vítima dominada.
Quanto a Gefferson, a investigação segue em aberto. A PM sustenta que ele foi baleado no confronto inicial e socorrido sem sucesso, mas a família acredita que ele foi executado na casa onde Paulo foi capturado. Vizinhos, segundo a Folha de S.Paulo, também alegam que Gefferson foi baleado já rendido e que a cena do confronto, com motos caídas, foi forjada. O delegado-geral Marcos Carneiro admitiu que a hipótese da família não pode ser descartada, prometendo uma apuração cautelosa.
Reações e Defesa
O comandante da PM, coronel Roberval França, declarou ao Fantástico em 11 de novembro de 2012 que a corporação apuraria o caso com rigor. “Se as provas confirmarem, esses policiais serão processados, demitidos ou expulsos”, afirmou. A PM informou que os fatos estão sob investigação pela Corregedoria e que os policiais foram imediatamente afastados.
O advogado José Miguel da Silva Júnior, defensor do tenente Chen e do soldado Henrique, nega a presença de Gefferson na casa onde Paulo foi capturado. “Só Paulo correu e foi baleado na viela. Se Gefferson estivesse lá, o tenente teria me informado”, disse, classificando a identificação da voz pela família como um equívoco.
Contexto e Suspeitas
A Folha revelou que uma linha de investigação explora uma possível ligação de Paulo e Gefferson com o tráfico em Paraisópolis, associada ao traficante Francisco Antonio Cesário da Silva, conhecido como Piau, suspeito de ordenar ataques a PMs. Contudo, a família de Gefferson nega qualquer envolvimento do jovem com atividades criminosas, reforçando que ele era um ajudante de pedreiro sem histórico policial.
O caso, que chocou a opinião pública, levanta questões sobre a violência policial e a credibilidade das versões oficiais em casos de “resistência seguida de morte”. A investigação do DHPP, apoiada por provas técnicas e depoimentos, busca esclarecer as circunstâncias da morte de Gefferson e confirmar se houve execução, como alegam os familiares e testemunhas.

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